Taylor Swift, Ilha Deserta e Ambiente Controlado

Semana do dia 06 ao dia 12 de outubro de 2025

 

Taylor Swift

Eu, que sempre amei pop, também sempre estranhei o quanto demorei para me interessar por Taylor Swift. Agora aconteceu. Acredito que a estética do álbum que ela lançou semana passada, The Life of a Showgirl, corresponde ao meu amor por brilho, por espetáculo. Nessa vida de acordar cedo, de correr no parque, as coisas da noite  perderam um pouco o espaço. Vejo que, como estamos cansando um pouco da exigência de hiper produtividade, a maquiagem borrada nos olhos e as cantoras que aparecem fumando nas férias têm ressurgido. Notei que já não se fala mais sobre qual espetáculo está em cartaz na Broadway — quando eu era criança ia na casa da minha amiga e vizinha Talita, que também fazia balé comigo, e ela só falava de reencenar Cats.

Contudo, além da Taylor ter enfim abandonado aquelas botinhas de cano curto que eu abomino e ter migrado para sapatos de Ginger Rogers — ainda confortáveis, porém belos e harmônicos — fiquei impressionada com o esmero no clipe: The Fate of Ophelia é inteiro coreografado, um investimento em tempo, cenário, figurino, criatividade.

Também fiquei sabendo que ela regravou todos os seus álbuns antigos e persuadiu seus fãs a apenas escutarem a mais nova versão, fazendo com que as precedentes perdessem valor e que ela pudesse enfim recomprar os direitos do seu catálogo, que pertenciam à gravadora como é de costume no mundo da música e tinham sido vendidos a fundos de investimento. Foi uma solução criativa e inovadora.

Ainda que eu não ouça à Taylor Swift, sempre admirei (de longe) e me identifiquei com a imersão que ela faz no próprio processo criativo. Taylor escreve e compõe — e o novo clipe faz referência à personagem de Hamlet, do Shakespeare, o que me transporta diretamente às aulas de inglês que tinha com o Mr Kuczynski na Escola Americana. No mais recente clipe ela reproduz a Ofélia do quadro famosérrimo de Millais — o que agrada a Isabela estudante de História da Arte na Sorbonne. 

Ela sintetiza esse mergulho criativo, do sonho do escritor que se isola nas montanhas para escrever, junto com a adolescente trancada no quarto que escreve o próprio diário ... agora com brilho.

Ilha Deserta

Quando eu era adolescente, costumava ler entrevistas de mulheres para mulheres, ou de adolescentes para adolescentes, de jovens adultas para jovens adultas, em revistas, blogs... me lembro de uma pergunta que, hoje, menos de uma década depois dessas leituras, seria completamente deslocada — qual parte do seu corpo você mais gosta e qual a menos gosta? Inflamando a insatisfação e incentivando o consumo de uma solução — me lembro de uma outra que sempre me pegava: o que você levaria para uma ilha deserta? 

Tendo morado dez anos em Paris, tenho certeza de que uma francesa, uma parisiense, se não respondesse simplesmente com "un paquet de clopes", um maço de cigarros, se esforçaria ao máximo para responder com o título de um livro. Nós, brasileiras, não. Era sempre "delineador ou rímel?", "blush ou batom?"

Até que, numa manhã desta semana, durante o banho e antes de sair para esmaltar mais uma vez meus pés e minhas mãos, percebi algo que me aterrorizava nessa pergunta: nem levando o delineador, o rímel, o blush e o batom eu estaria completamente pronta para ir para a tal da ilha deserta. Enquanto ensaboava minhas pernas para passar a lâmina, me perguntei se tudo isso não seria um completo efeito do capitalismo. Sim, mas também: a vida exige manutenção. Em tempos de caverna — a gente adora (eu?) pensar assim para se opor aos dias de hoje —, provavelmente descabelada e bem próxima das condições da tal ilha, ainda teria que levantar, com fome, talvez mau humor?, e sair para buscar frutinhas. Prefiro cortar morangos, misturar no iogurte com chia, mastigar esse belo café da manhã com meus dentes alinhados por aparelhos odontológicos desde a mais tenra idade — comentaram comigo nesta semana, viu como está começando mais cedo? 

Meu dentista em Paris, o "Dr Green", é pai de nada menos do que Eva Green, a Bond Girl definitiva. Na minha primeira consulta, já imaginando meu futuro sorriso hollywoodiano, perguntei para ele se meus dentes mereciam um clareamento. Ele falou "clareamento? Vocês brasileiras querem o peito assim, o dente assim... tente por favor comer pouco açúcar e está ótimo". ---

Quando a febre das tatuagens de sobrancelha, tatuagens de lábios viraram febre, até pensei que isso seria um passo perfeito para ir mais leve para a ilha deserta — mesmo que com a pele já esturricada do sol, afinal boné e protetor solar estariam longe da minha lista essencial, adoraria acordar com os pés na areia e os lábios rosados. 

Há permanência — é o que insiste minha guru de ioga — mas há permanente? Nos anos 80 até inventaram isso para cabelo ondulado — eu nasci quando isso já era ultrapassado e estamos em 2025 e até o alisamento da franja a gente ainda tem que retocar (eu?). 

Fico horrorizada com jardins verticais de plantas plásticas — poupam trabalho, mas trazem vida? E, imagino, até elas, expostas à luz do dia, devem desbotar. 

Preciso urgente concluir meu pacote de sessões de depilação a laser — a gente tem que viver no tempo que vive. E semana que vem vou agendar esmaltação em gel. Se for para esmaltar, que seja mês a mês e não toda quinta-feira. Quero mais tempo para ler meus livros.

 

Ambiente Controlado

Sábado agora foi o noivado da minha prima. Passamos a semana preocupadas, acompanhando a previsão do tempo. Ela sonhou com uma tarde ao ar livre, na casa de campo dos pais do noivo. Eis que o tempo vira em São Paulo e uma chuva se anuncia para o final de semana em Itu. Vai chover? Toda a logística do evento teria que ser repensada — onde acomodar os convidados, montar a estrutura? E o penteado, o frizz??? Ela tem cabelos lisos, daqueles cheios e pesados, imagino que não tenha pensado em uma outra opção, mas eu, sim. Vai fazer frio? E a tão sonhada roupa, como acrescentar camadas? E talvez com um tempo cinza a decoração com tema provençal não faria nem sentido...

Eu achei estranho mesmo quando vazaram fotos do casamento da Gisele Bundchen noiva com os pés descalços na areia. E a cauda, o véu? Isso foi há 16 anos... desde então, casar na praia, no campo, virou sonho de muitas noivas. Combinaram o espetáculo que é ser noiva com a tal da ilha deserta... não seria melhor relaxar em um ambiente controlado?

Fez sol e 26ºC em Itu.

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Sobre ISABELA MONTEIRO

Isabela Monteiro estudou História da Arte e Arqueologia na Sorbonne e se formou em moda no Studio Berçot em Paris, onde morou por 10 anos antes de retornar ao Brasil para lançar sua marca homônima em São Paulo.

A marca traz para a contemporaneidade, por meio de fibras nobres e cores vibrantes, as técnicas artesanais que Isabela aprendeu com as avós e com a admiração pelas mulheres da família.

Suas coleções são elaboradas com tecidos festivos e peças exclusivas desenvolvidas e feitas à mão por ela e sua equipe de artesãs brasileiras.