De 20 a 26 de Janeiro de 2025
A contracapa do livro de Thorstein Veblen.
Veblen
Nas semanas seguintes ao meu aniversário, me interessei pelo tema do “gosto”. Vi, em um grupo, todas usarem o mesmo tênis, sem terem combinado ou falado sobre o assunto. Em outro grupo, vi mulheres usando o mesmo colar. O que faz as pessoas de um certo círculo social gostarem de algo, comprarem e vestirem a mesma coisa?
Então, a cada semana fui descobrindo um novo autor, encomendando um novo livro. Primeiro, veio Roland Barthes, com “Sistema da Moda”. Depois, Pierre Bourdieu, com “A distinção: crítica social do julgamento”. Já pro final de dezembro — meu aniversário é em novembro —, estava esperando chegar “Teoria da Classe Ociosa”, de Thorstein Veblen, que comprei — amarelado mas novinho — pela Estante Virtual.
A contracapa descreve perfeitamente a situação, a sociedade em que estamos inseridos em uma metrópole como é São Paulo, a cidade que vivo hoje em 2025. O livro foi escrito em 1899. Ao pensar nessa data, me vem sempre à cabeça alguns quadros do Museu d’Orsay, com pessoas vestindo xadrez e poá, em grandes varandas. Ociosas?
Na última semana do mês de janeiro comecei realmente a ler o livro. “É só pedrada”, “é só paulada”, como dizem hoje. É verdade atrás de verdade: meu livro está todo sublinhado de lápis grafite. Bem, comecei a leitura mas segui com o da música, sobre o qual contei semana passada.
Verdades por vezes modificam como vemos o mundo em que vivemos — então, às vezes é bom ir de conta-gotas.
Vinyasa
Dia 23 também completou um mês que estou fazendo a sequência de yoga com uma certa frequência. Tanto que resolvi fazer sozinha, sem escutar as instruções no fone de ouvido como de costume.
Devia ter uns dez anos de idade quando fiz, pela primeira vez na vida, uma sessão de yoga. Fui com a minha avó Cleonice. O que mais me marcou foi concluir a aula com toda a sala em uníssono ‘OM’. Me senti como se levitasse. Depois, fiz aulas na Sorbonne, quando morava em Paris. Voltando para o Brasil, aprendi muito com o Hatha Yoga. Agora, é a primeira vez que pratico Vinyasa Yoga: nessa “modalidade”, permanecemos em uma postura apenas o tempo de algumas respirações, para já seguir com outra; os movimentos se encadeiam, um emenda no outro. Enquanto o Hatha ensina permanência, com o Vinyasa estou praticando o fluir.
Convivência
No final de semana, fomos para a Ilhabela. Foi uma delícia. Dessa vez, fomos com a família do meu namorado. Eu fiquei felicíssima de ter levado meu tricô para fazer por lá: na volta, enfrentamos mais de duas horas de trânsito só na fila para pegar a balsa que atravessa o mar da ilha até São Sebastião, então tricotei um monte. Avancei bem no vestido que estou fazendo para a próxima coleção.
Mas também fiquei feliz de ter levado e feito tricô pois senti o poder de conviver e passar para a frente as tradições.
No sábado estava tricotando no sofá, enquanto esperava as crianças terminarem de tomar café da manhã. Eis que elas começam a perguntar: como que você faz isso — fios do novelo — virar isso — saia do vestido —? Como faz?
Então, as mãozinhas de uma criança de quatro aninhos levaram as agulhas e tentaram entrelaçar e formar pontos.
Foi assim que eu aprendi também. Nas férias, minha avó Wanda vinha lá de Andradina para a casa dos meus pais em Campinas e, enquanto assistia Ana Maria Braga, fazia um biquíni. Eu ficava ao seu lado brincando. De Barbie principalmente. Uma vez, durante alguma copa do mundo, assistíamos Angélica na TV, e ela estava com um vestido azul, verde e amarelo. Durante o programa, minha avó fez uma roupa igualzinha para a minha boneca.
Essa convivência com o crochê, com o tricô da minha outra avó, com os pontos-cruz no quadro da casa da tia Marina, com as colchas de retalho que faziam minha bisa e tia avó, com as toalhas pintadas à mão, com as amostras de tecido de arquitetura que via sempre quando acompanhava minha mãe arquiteta às lojas de carpete e de cortinas… com o tempo, estava tudo em mim. Na Isabela Monteiro. E agora, começo a ouvir:
“Nossa, passo tanto tempo trabalhando com você e vendo você fazer, que estou com vontade de aprender também!” — João Guilherme, 20 anos
“Ai, quero aprender também, tem uma agulha aí?” — Lara, 29 anos
“Me ensina?” — Laura, 4 anos
Tem um trecho que inicia o livro de contos que os irmãos Grimm reuniram, que me faz sentir e viver isso:
"O canto junto à lareira ou perto do forno de lenha na cozinha, o lugar ao pé da escada, os feriados que ainda se festejam, os pastos e as florestas em seu silêncio, e sobretudo a fantasia-são essas as cercas vivas que protegeram essas histórias e levaram a tradição de uma época à outra."
— Jacob e Wilhelm Grimm, 1812
Links da semana (e uma receita no final!)
Misturei esses dois quadros do Tissot na minha lembrança de varandas: “O Círculo da rua Royale”, de 1866, e “Retrato do marquês e da marquesa de Miramon e seus filhos”, de 1865.
O artigo que escrevi contando também sobre ler na língua original. Comprei todos os que mencionei nas línguas que foram publicadas originalmente.
O livro do Roland Barthes, em francês, na Livraria da Travessa, onde comprei.
O livro do Pierre Bourdieu, em francês, na Estante Virtual.
O livro que comecei a ler, de Thorstein Veblen, também na Estante Virtual.
O artigo que li recentemente, que menciona o “Veblen Goods economic model”.
Um vídeo, no Youtube, no qual a filosofa Catherine Malabou, em frente à obra de Tissot no Museu d’Orsay, analisa o quadro e ainda reúne Marcel Proust e antissemitismo. Muito interessante como a reflexão que ela faz também se relaciona à uma idéia de darwinismo social, corrente, hoje ultrapassada, de Veblen.
Mini Palais, o restaurante (que eu amava ir) que ficava dentro do Petit Palais, cuja varanda me lembrava muito a do quadro do Tissot, no site Do It In Paris que era super referência do que fazer em Paris quando eu morava lá, e no do Conexão Paris, que inclui foto (E RECEITA!) da Gougère maaaaravilhosa que serviam lá — tipo um pão de queijo francês.
Receita da Gougère do Mini Palais (vai que tiram do ar)
"Receita da famosa gougère do Mini Palais: 10 cl de leite, 5 cl de creme de leite, 50 gr de farinha de trigo, 40 gr de manteiga, 15 gr de comté (queijo) ralado, 1 ovo, 2.5 gr de açúcar, uma pitada de sal e de flor de sal. Na panela colocar o leite, o creme de leite, o açúcar, o sal, a manteiga e deixar ferver até que a manteiga se derreta. Tirar do fogo e acrescentar a farinha e mexer vigorosamente com uma espátula. Voltar com a panela para o fogo baixo durante 2 minutos mexendo sem parar. Acrecentar o ovo e cozinhar ainda 1 minuto. Terminar com o queijo ralado e a flor de sal. A massa deve ser homogênea. Pré aquecer o forno a 200 graus. Colocar a massa em forminhas de muffins e deixar assar durante 15 ou 20 minutos. Servir as gougères mornas.”